“É preciso dedicar mais recursos para a promoção do turismo”

“É preciso dedicar mais recursos para a promoção do turismo”

Jeanine Pires

Jeanine Pires, sócia da Pires e Associados e especialista em eventos e em economia do turismo concedeu entrevista à Tribuna do Norte (RN) sobre o pacote de estímulo ao turismo lançado pelo governo federal em abril.

O pacote visa quase dobrar o número de estrangeiros no Brasil, até 2022, e inserir 40 milhões de brasileiros no mercado de viagens. Entre as medidas anunciadas estão a implantação de visto eletrônico para “grandes emissores de turistas internacionais com alto poder aquisitivo” – a exemplo de Estados Unidos e Japão –  a intensificação de ações de qualificação profissional na área, além da modernização do modelo de gestão da Embratur,  autarquia especial do Ministério do Turismo que tem, entre outros papeis, o de promover turisticamente o país.

Segundo Jeanine, a maioria das medidas são reivindicações do setor há 10 ou 20 anos que apontam oportunidades, mas também outros estímulos necessários para aquecer a atividade.

Confira na integra a entrevista à Tribuna do Norte:

O pacote de estímulo ao turismo que o governo lançou quer ampliar o número de turistas estrangeiros no Brasil e o de brasileiros no mercado de viagens. Como essas metas podem ser avaliadas?
As metas estabelecidas possuem, prioritariamente, o objetivo de fortalecimento do setor. As medidas do “Brasi+Turismo” trazem, tecnicamente falando, soluções para alguns pontos que necessitam de estratégias definidas e, por vezes historicamente negligenciados, como a valorização do turismo regional, fortalecimento de órgãos de turismo e planos de qualificação e geração de empregos no setor. A meta para turistas internacionais, por exemplo, é passar de 6,5 milhões em 2016 para 12 milhões em 2022 e o Brasil possui sim, bastante potencial para isso. Apesar de não ter conhecimento de como esses dados foram projetados, é preciso que o novo modelo de gestão da Embratur seja rapidamente implantado, que sejam dedicados mais recursos para a promoção de forma planejada e em mercados prioritários.

São metas exequíveis?
Na verdade muitos são os aspectos que podem ajudar ou impedir esses avanços, teríamos que aprofundar mais o planejamento para saber se elas podem ser executadas.

Mas as medidas apresentadas são suficientes para alavancar o setor ou são necessárias doses extras de estímulos?
A maioria das medidas são reivindicações do setor de turismo há 10 ou 20 anos, nesse sentido é positivo que tenham avançado.  Dependem de outras áreas do governo para alavancar, e a situação orçamentária e política é bastante complicada esse ano e no próximo. Não são suficientes para desenvolver o turismo, mas são passos importantes para que o setor avance. Destaco a mudança de modelo de gestão da Embratur, que há 11 anos vem sendo debatida e consegue trazer uma nova perspectiva de promoção internacional, apesar de também depender de muitas variáveis. Uma Embratur em formato de agência vai permitir parcerias com o setor privado, realização de ações cooperadas, profissionalização da agência, planejamento e continuidade dos programas, dentre outros benefícios.

Considerando o tempo de espera por essas medidas, faltava vontade, dinheiro ou oportunidade para que saíssem do papel?
Entendo que o mundo mudou e algumas questões acabaram sendo definidas porque caíram de “maduras”, a exemplo da questão dos vistos. De maneira geral, o turismo era e ainda é pouco compreendido como uma atividade econômica que contribui diretamente com 3% do PIB e gera muitos empregos.

Com relação aos vistos, uma dessas medidas do pacote quer simplificar o procedimento para turistas dos Estados Unidos, Canadá, Austrália e Japão, países que têm pouca representatividade para o turismo da região Nordeste. Isso pode ser encarado como oportunidade ou como sinal de que o pacote terá baixo impacto no turismo nordestino, uma vez que a predominância na região é de outros públicos que não esses, a exemplo do europeu?
Inicialmente, o pacote poderá ter impacto não muito alto, porém uma vez que os americanos (que estão em segundo lugar no número de visitantes para o Brasil) começarem a vir, além dos destinos tradicionais que os turistas dos EUA visitam, é provável que eles descubram também o Nordeste, com o passar do tempo. É um processo cujo resultado teremos a médio e longo prazo.

Conceder o visto de forma menos burocrática estimula o estrangeiro a viajar. Mas o que mais é necessário para aquecer esse fluxo?
Conseguimos bastante atenção internacional  após  sediarmos os Jogos Olímpicos e a Copa. Temos um país riquíssimo em cultura, atividades e diversidade de destinos, por isso, campanhas de alcance internacional que promovam essa diversidade são fundamentais. Investir na pluralidade que temos aqui a fim de atrair turistas também diversos (os que desejam fazer turismo gastronômico, turistas que querem aproveitar o verão, ecoturistas, mochileiros etc) é importante. Além da difusão da desburocratização dos vistos, pois é necessário que o turista estrangeiro saiba que possui essa facilidade de vir ao Brasil, para que isso vire um fator motivador. O Nordeste já tem voos diretos para os EUA e realmente tirar a barreira do visto poderá ser uma facilidade a mais, que precisa de uma estratégia de posicionamento no mercado americano, que é bastante complexo; investimentos em relações públicas, marketing digital e uma série de ações para transformar a isenção do visto em aumento de viajantes. Um dos principais assuntos a tratar para que aumentem os norte-americanos para o Nordeste também é a oferta de voos.

A quem cabe conduzir essas medidas? É papel dos estados? Municípios? do governo federal? da iniciativa privada?
Cabe ao Governo Federal implementar as medidas que ele propôs, mesmo sabendo que vivemos um cenário muito adverso do ponto de vista econômico e político. Acredito que o Turismo é feito sempre em conjunto. Primeiro, o turista internacional chega aqui por um meio de transporte, de avião ou de navio, já temos dois campos do transporte. O turista se hospeda em algum lugar, estamos no setor de hospedagem. Ele precisa se locomover dentro do destino: transporte público ou transportes de viação (taxis, uber, ônibus privados). Precisa se preocupar com a segurança, responsabilidade do governo. Ele faz uso de diversos outros serviços como os de gastronomia, lazer etc. Com as medidas aplicadas não será diferente, para cada área que constitui o turismo há um trabalho a ser feito, seja da iniciativa pública, que entra com a estratégia de destino, segurança, serviços públicos, modernização de processos e leis, desburocratização, criação de estratégias a longo prazo, investimentos em destinos, campanhas e em melhorias; quanto da iniciativa privada que aplica e cumpre as diretrizes do governo, estabelece metas, capacita os profissionais e investe na qualidade dos serviços. Há sempre que ter uma conversa entre essas duas partes.

No caso do Rio Grande do Norte, onde a presença de estrangeiros no turismo despencou nos últimos anos, qual seria o desafio?
A presença de estrangeiros diminuiu em todo o Nordeste nos últimos anos, fruto da retirada de voos diretos, principalmente. Entendo que o desafio vem sendo enfrentado pelo Secretário Ruy (Secretário de Turismo do estado, Ruy Gaspar), que está desde o início de seu mandato se relacionando com empresas aéreas, operadores, fazendo campanhas e atuando de forma proativa. Ele é uma pessoa do setor e um profissional capacitado para liderar esse processo.

Que avaliação é possível fazer do momento atual para o turismo no Brasil, Nordeste e RN?
Primeiramente precisamos entender que o Turismo está mudando, no Brasil e no mundo, de forma rápida e drástica. A forma como os turistas escolhem destinos, desfrutam da viagem e as preferências que possui estão moldando uma indústria que o setor precisa estudar, entender e ter dados e informações para a tomada de decisões. Estamos num período não só de adaptação aos novos hábitos de consumo, mas também de transformação na atuação do setor. O Brasil possui um  potencial extraordinário para a indústria, somos líderes em Recursos Naturais no mundo todo, de acordo com o último  índex de competitividade do Fórum Econômico Mundial (Travel & Tourism Competitiveness Report). E o Rio Grande do Norte está totalmente inserido nessa classificação e mais, agrega também a pluralidade regional. Aproveitar o destaque que ganhamos e a visibilidade positiva que adquirimos em 2016 é crucial para o desenvolvimento do turismo em cada destino brasileiro. Na pesquisa feita nas Olimpíadas Rio 2016, 87% dos turistas internacionais afirmaram ter pretensão de voltar ao Brasil. Tomar proveitos das oportunidades e otimizar ao máximos os recursos para atender às necessidades com identificação de pontos mais frágeis é um dos caminhos mais eficazes. O Brasil possui toda a capacidade e, agora, possui um caminho e metas a cumprir. Entendo que deveriam ser retomados os Planos Nacionais de Turismo, o Plano Aquarela de Promoção Internacional, metas e diretrizes que precisam ser atualizadas e inovadas, mas que devem ser um norte e um planejamento de governo e de parcerias com o setor privado. Tenho certeza que as inúmeras mudanças de ministros nos últimos anos, a ausência de uma política nacional efetiva depois de 2010, a ausência de profissionalismo e o orçamento dilacerado do turismo são condições inaceitáveis para um país como o Brasil.

A economia brasileira ainda está em retração e combustíveis fundamentais para o consumo, o emprego e a renda, continuam retraídos. É possível falar em crescimento do setor em meio a esse cenário?
Entendo que somente é possível se, junto com a recuperação da economia os itens mencionados ao final da pergunta anterior forem alterados e mudados. A crise política de nosso país é muito grande, e o turismo vem sendo tratado como moeda de troca e carece de continuidade de gestão e programas. Por outro lado, sendo o turismo uma atividade resistente à crise e com capacidade de recuperação, teríamos condições de contribuir ainda mais com o desenvolvimento do país se isso fosse entendido na prática.




Artigo publicado em:
17/04/2017
Categorias:
Turismo
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